ESCOLA DE TEATRO E DANÇA DA UFPA
GRUPO DE PESQUISA E EXTENSÃO EM EDUCAÇÃO SOMÁTICA NA DANÇA
Coordenação: Profº Mestre Saulo Silveira
GRUPO DE PESQUISA E EXTENSÃO EM EDUCAÇÃO SOMÁTICA NA DANÇA
Coordenação: Profº Mestre Saulo Silveira
Após o término da greve das universidades federais em todo País, no dia 01/10/2012 voltamos às atividades no grupo de estudos de Educação Somática na Dança. Profº Saulo conversou com a turma e redefiniu os objetivos do projeto de extensão à adequação ao novo calendário de aulas (em atraso).
Durante a conversa na roda
ele nos perguntou, de acordo com o que já havíamos experimentado das atividades
físicas de educação somática em nosso corpo, como e onde essas práticas e
conhecimentos estavam nos influenciando em nosso fazer e pensar durante nosso
processo individual de criação artística. Todas as falas seguiram esse caminho.
No meu caso, desde o primeiro
dia das praticas somáticas meu corpo (soma) respondeu de imediato! O bem estar
e a energia gerados em meu psicofísico duravam praticamente a semana inteira.
Eu me sentia revigorada e em contato com minha Energia Vital na integra. Porém,
esses resultados foram desembocar não no meu processo artístico e sim nas
minhas relações interpessoais; não era esse meu foco, mas identifiquei que as
coisas estavam indo nesse rumo, então não interferi. Até aí tudo bem...
Entretanto, o que me surpreendeu
mesmo foi perceber onde o conhecimento somático foi interferir em meu processo
artístico! Eu passei três dias organizando uns insights que eu tive sobre meus estudos individuais acerca da
linguagem cinematográfica. Eu havia finalizado e postado esse texto no meu blog
de cinema minutos antes de eu ir para aula de profº Saulo. E durante as falas dos participantes e mais
do profº, veio-me outro insight...
Pois bem, para se compreender
meu recente insight sobre onde o
conhecimento somático influenciu no meu fazer artístico, necessário se faz
descrever brevemente quais são, a priori, as consequências benéficas na
compreensão da construção do conhecimento individual e coletivo dentro do
universo da abordagem somática.
A Educação Somática é um
campo de estudo teórico e prático onde são utilizadas ferramentas de estímulos
corporal e psíquico (este ultimo desencadeado pelo primeiro) para que através
da EXPERIENCIA o indivíduo edifique o entendimento sobre si, sobre o outro e
sobre o mundo para a construção do conhecimento.
Essa experiência individual e
intransferível abrirá caminho para que o sujeito alcance uma liberdade de
escolha. “Parece tranquilo saber escolher”, alguns pensariam. Mas se deve compreender
que a massa é educada para seguir o padrão e vivemos numa sociedade em 3ª
Pessoa, onde a 1ª Pessoa pensa e age através do que a 3ª Pessoa manda... então
virá o discurso antropológico que diz que a vida em sociedade é regida por leis
e ações do coletivo... sim, concordo, mas acredito que quando essa coletividade
tolhe a possibilidade dos indivíduos conhecerem outros caminhos para se chegar
a um denominador comum, emerge algo chamado censura e/ou controle.
Na abordagem somática na
construção do saber abre-se espaço para exploração de caminhos possíveis para o
entendimento, acontece a queda do condicionamento. Assim, o individuo descobre
que ele pode aprender algo de diferentes maneiras, e dessa descoberta sobre si
este mesmo individuo percebe que ele pensa e é capaz de se autoconhecer.
A este individuo foram
entregues dados e ferramentas e possibilidades para que ele sozinho possa juntar o quebra-cabeça, as coisas não lhe foram entregues ‘mastigadas’. E a
trajetória de como montar o quebra-cabeças torna-se mais importante do que a
peça montada. Alguns talvez se perguntem: “mas pra quê perder tempo
experimentando se já existe um caminho que todos sabem que vai dar certo?” a
resposta é simples: não somos robôs, nem mais homo sapiens na selva
pré-histórica; as aptidões e percepções são diferentes de individuo para
individuo, essa valorização individual é que gera a inclusão e compreensão
(da)na diversidade. O condicionamento aprisiona e gera (pré)conceitos,
intolerâncias.
Depois que me tornei adulta e
muito depois de passar pela faculdade, eu compreendi meu ódio e repulsa pela
Academia. Esta não é ruim, o que matava meu interesse pela escola (e não pelo
saber) era o academicismo... porque condicionava tudo a uma formula onde
os componentes não podem sair do lugar
comum. Não se pensa, nem se reflete sobre o quê nos é ‘ensinado’, sai-se da
faculdade adestrado... Felizmente isto já está mudando, porém ainda requer
passos mais largos.
“Que discurso bonito, mas na
vida isso não funciona!”, diriam alguns... funciona quando o (auto)conhecimento
faz com que o individuo opte por outras atitudes em prol de seu bem estar e
isso se reflete indubitavelmente no bem estar coletivo. Abrem-se outras
percepções sobre o que realmente é importante, é a valorização do SER e não do
‘ter’. E a sociedade vai sendo formada por pessoas mais dinâmicas, criativas,
sensíveis, humanizadas. Para o capitalismo selvagem isso não é tão bom, porque
o retorno de lucro não será imediato, dentre outras coisas... (mas isso é outra
discussão).
Pois bem, de posse desta
breve introdução básica, agora descrevo aonde a educação somática tornar-se
presente em minhas atividades artísticas. Em sala de aula, expliquei (bastante
surpresa) a prfº Saulo, onde eu estava aplicando os princípios da educação
somática de forma bastante eficiente: durante o repasse do conhecimento pratico
em realização para o audiovisual. Que incrível!
Há quase dois meses participo
de um coletivo de cinema, onde estou auxiliando na realização do projeto de um
dos componentes, as pessoas do grupo sabem pouco sobre a linguagem e
procedimentos para a realização de um filme. Fui convidada pelo coletivo para dar
umas dicas sobre o assunto. Então, aproveitando a oportunidade, resolvi
experimentar uma abordagem de repasse do conhecimento respeitando os princípios
da educação somática. Os resultados são os melhores possíveis, tanto para o
grupo quanto para mim que participo dele. Ao final da realização desse projeto
pretendo escrever sobre essa experiência. Sinto-me mais estimulada para
realizar algo quando se tem a possibilidade de experimentar novos caminhos. Sem
duvida a Educação Somática é o futuro.
03 de outubro de 2012
00h00
*ouvindo ininterruptamente
“Monte Castelo” – Legião Urbana; é um excelente mantra.