segunda-feira, 5 de novembro de 2012

TEXTO Nº07 - Katiuscia


ESCOLA DE TEATRO E DANÇA DA UFPA
GRUPO DE PESQUISA E EXTENSÃO EM EDUCAÇÃO SOMÁTICA NA DANÇA
Coordenação: Profº Mestre Saulo Silveira


Na aula passada profº Saulo nos iniciou nos exercícios de Padrões Neurológicos Básicos/ PNB (ou Respiração Celular).

"O termo Padrões Neurológicos Básicos/ PNB implica na modificação simultânea dos sistemas nervosos e muscular rumo à complexidade. Pouco a pouco o bebê vai de uma posição de repouso com pouca habilidade de locomoção até ser capaz de deslizar, transferindo o peso de partes alternantes do corpo no sentar, engatinhar, até manter-se em pé com o apoio de um adulto ou de objetos, até sustentar-se nas duas pernas, onde sempre se 'volta' ao anterior porém modificado pela nova descoberta" [FERNANDES, Ciane,  O Corpo em Movimento: o sistema Laban/Bartenieff na formação e pesquisa em artes cênicas. 2ª Ed. São Paulo: Annablume, 2006/ pg. 56].

"Nosso organismo humano recebeu a ordem fisiológica para completar algumas tarefas de movimento nos primeiros anos de vida (...) sedimentando padrões em todo o organismo, inclusive no sistema neuromuscular (...) e influenciando a capacidade do individuo para ser e mover-se no mundo. se a pessoa não completou estes padrões corporais, o desenvolvimento será impedido. na progressão dos PNB, cada estágio prévio apóia sublinarmente cada estágio subsequente. Cada estágio é necessário. Enquanto adultos, é benéfico re-lembrar cada estágio favorece a integração, isto é, o uso oportuno de acordo com o contexto". [HACKNEY, 1998: 42, apud: FERNANDES, 2006: 56]. 



1) Respiração Celular
Ela está presente em todos os demais PNB.




2) Irradiação Central
"Este estágio desenvolve a atenção, estabelece a noção de individualidade, de Cinesfera pessoal, e de desenvolvimento em todos os planos do espaço".



3) Cabeça-Cauda
ou Corpo em Organização Espinhal




4) Corpo em Organização Homóloga
(superior/inferior)
"Este estágio capacita o individuo a conectar-se com a terra e relacionar-se com a gravidade, locomovendo-se no espaço e mudando de níveis (...) Segundo  esta constituição, cabe à parte superior, a mobilização e atividade muscular fina, como escrever, gesticular, etc. No entanto, essas funções são constantemente investidas ou temporariamente alternadas, criando diferentes formas de expressão artística. Devido à constituição e função diferenciadas, a cintura pélvica e a cintura escapular são também tratadas como Centro de Peso e Centro de Levitação, respectivamente".



5) Homolateral
"O controle  sobre o movimento homólogo leva a criança naturalmente ao próximo estágio, diferenciando lado direito e lado esquerdo, em movimento homolateral. Não se trata de diferenciar apenas do braço esquerdo do direito, mas todo o lado direito do corpo de todo o lado esquerdo. Ou seja, a partir da coluna (fase Espinhal), o corpo divide-se no lado direito da cabeça, pescoço, tórax, abdômen, braço, perna, e seu homolateral esquerdo. Este estágio clarifica a intenção e estabelece as bases para a integração das funções laterais do cérebro".



6) Contra-Lateral
"Este estágio desenvolve o cérebro frontal e a autoconsciência promovendo o comprometimento na ação. Para chegar neste estágio, a criança alterna entre todos os anteriores, até atingir a maturidade neurológica necessária".


Iniciamos com o relaxamento corporal habitual às aulas práticas, depois um a um experimentamos as movimentações. Cada passo era-nos lembrados a evolução celular do embrião humano, e à medida que íamos passando para a etapa seguinte, igualmente à movimentação corporal, a educação respiratória acompanhava. Confesso que a partir do terceiro movimento, eu já estava me divertindo, e sentindo o bem-estar característico das aulas práticas somáticas.

Esse é um dado constante, sempre alcanço um relaxamento tão completo a ponto de me deixar em estado de felicidade interior. Aprendo e me divirto muito nas aulas práticas. Adoro conhecer meu corpo psicofísico, quais as possibilidades dele, e também adentrar mais e mais na minha memória celular. E os seis exercícios desta aula tinham essa finalidade.

Além de acionar nossa lembrança celular, os exercícios também nos levavam ao passo-a-passo da evolução motora do individuo desde o estado embrionário; do levantar a cabeça; arrastar-se; sentar; engatinhar; e ficar de pé e caminhar. Para mim que sou ambidestra e sempre tive confusão entre esquerda e direita, era ótimo estar endossando e separando para minha mente o quê era o quê através desses exercícios delicados... além da coordenação motora ser explorada pelos movimentos, a noção espacial também estava sendo abordada. E igualmente sempre tive uma pequena limitação em relação à minha noção espacial.

Ser ambidestra é legal, dá certa agilidade a determinadas tarefas manuais em muitos casos, mas também gera uma pequena confusãozinha motora, pois é como se o cérebro da pessoa praticamente compreendesse que esquerda e direita são uma coisa só, daí as confusões espaciais e de movimentos coordenados. Lembro-me que era braba essa confusãozinha de direita/esquerda e durante um bom tempo eu utilizava de um recurso visual para lembrar-me quem era quem: usava uma fitinha vermelha amarrada ao braço esquerdo para diferencia-lo do direito; fiz isso durante uns anos até que me libertei da referencia visual, entretanto quando tenho que dizer a alguém coisas do tipo: “caminhe e vire a sua direita ou esquerda...” eu paro um pouquinho para localizar quem é quem.

Nada de mais. Gosto de ser ambidestra, encaro como se eu tivesse um bônus, algo como uma ferramenta adicional mais prática, e que para utilizá-la basta compreendê-la como tirar vantagem disso. Foi o que fiz ao longo dos anos. Há pesquisas que dizem que quanto mais os dois lados do cérebro são amplamente exercitados/estimulados, mais chances de o individuo alcançar potencialidades de inteligência emocional, de criatividade artística, e linguísticas inimagináveis. Leonardo da Vinci era ambidestro (e disléxico também), acho que ele soube mesmo tirar vantagens disso... Na minha humilde compreensão, também busco conhecer e desenvolver minhas potencialidades o máximo possível. Essa curiosidade sobre mim mesma é um excelente combustível rumo ao conhecimento das coisas.

Esse também é um ponto inerente da Educação Somática: resgatar o individuo de si mesmo, abrindo caminho para seu autoconhecimento e potencialidades. Realmente adoro as aulas de Educação Somática na Dança de profº Saulo, como há relatos em meus diários de bordo anteriores, desde o inicio as reações positivas acontecem quase de imediato, como se meu psicofísico apenas esperasse os estímulos adequados para manifestarem essa lembrança celular em estado latente.

É tão gratificante, é como se eu passasse por etapas de minha autodescoberta em estado ainda infantil, porém com a consciência já desenvolvida... coisa como se eu tivesse a chance de revisitar lembranças e consertar o sentimento de quando elas aconteceram, e alcançar esse resgate e cura psicofísica através da prática somática. Acho isso incrível: a compreensão da memoria celular do individuo através de seu corpo físico em movimento harmônico com a respiração.

Após passarmos pelas etapas  dos exercícios de respiração celular, fomos para a prática na dança. Exploramos e executamos uma dança pessoal a partir dos movimentos estudados, porém, acrescentando nosso toque pessoal. Sentia-me uma massinha de modelar. Cada participante alcançou sua célula criativa, dando-lhe inicio-meio-e fim; depois mostramos aos colegas em exposição individual. Também é interessantemente lindo observar em um bailarino quando ele executa o movimento de acordo com o fluxo respiratório. O movimento é o individuo inteiro, tudo está conectado: o sentimento, a intenção e o físico. É uma fluidez belíssima.

Foi uma excelente aula. Como sempre, fiquei extremamente relaxada e esse estado me acompanhou durante semanas. Percebo que cada vez mais o alcance dos exercícios práticos de Educação Somática está permanecendo em meu corpo psicofísico de forma mais permanente, graças a Deus. Percebo a olhos vistos a melhoria em minha qualidade de vida através de meu bem-estar interior. Isso é maravilhoso.

*OBS: todos os trechos entre aspas foram retirados do livro:
FERNANDES, Ciane,  O Corpo em Movimento: o sistema Laban/Bartenieff na formação e pesquisa em artes cênicas. 2ª Ed. São Paulo: Annablume, 2006


05 de novembro de 2012
12h46 p.m.


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