quinta-feira, 4 de outubro de 2012

TEXTO Nº06 - Katiuscia


ESCOLA DE TEATRO E DANÇA DA UFPA
GRUPO DE PESQUISA E EXTENSÃO EM EDUCAÇÃO SOMÁTICA NA DANÇA 
Coordenação: Profº Mestre Saulo Silveira


Após o término da greve das universidades federais em todo País, no dia 01/10/2012 voltamos às atividades no grupo de estudos de Educação Somática na Dança. Profº Saulo conversou com a turma e redefiniu os objetivos do projeto de extensão à adequação ao novo calendário de aulas (em atraso).

Durante a conversa na roda ele nos perguntou, de acordo com o que já havíamos experimentado das atividades físicas de educação somática em nosso corpo, como e onde essas práticas e conhecimentos estavam nos influenciando em nosso fazer e pensar durante nosso processo individual de criação artística. Todas as falas seguiram esse caminho.

No meu caso, desde o primeiro dia das praticas somáticas meu corpo (soma) respondeu de imediato! O bem estar e a energia gerados em meu psicofísico duravam praticamente a semana inteira. Eu me sentia revigorada e em contato com minha Energia Vital na integra. Porém, esses resultados foram desembocar não no meu processo artístico e sim nas minhas relações interpessoais; não era esse meu foco, mas identifiquei que as coisas estavam indo nesse rumo, então não interferi. Até aí tudo bem...

Entretanto, o que me surpreendeu mesmo foi perceber onde o conhecimento somático foi interferir em meu processo artístico! Eu passei três dias organizando uns insights que eu tive sobre meus estudos individuais acerca da linguagem cinematográfica. Eu havia finalizado e postado esse texto no meu blog de cinema minutos antes de eu ir para aula de profº Saulo.  E durante as falas dos participantes e mais do profº, veio-me outro insight...

Pois bem, para se compreender meu recente insight sobre onde o conhecimento somático influenciu no meu fazer artístico, necessário se faz descrever brevemente quais são, a priori, as consequências benéficas na compreensão da construção do conhecimento individual e coletivo dentro do universo da abordagem somática.

A Educação Somática é um campo de estudo teórico e prático onde são utilizadas ferramentas de estímulos corporal e psíquico (este ultimo desencadeado pelo primeiro) para que através da EXPERIENCIA o indivíduo edifique o entendimento sobre si, sobre o outro e sobre o mundo para a construção do conhecimento.

Essa experiência individual e intransferível abrirá caminho para que o sujeito alcance uma liberdade de escolha. “Parece tranquilo saber escolher”, alguns pensariam. Mas se deve compreender que a massa é educada para seguir o padrão e vivemos numa sociedade em 3ª Pessoa, onde a 1ª Pessoa pensa e age através do que a 3ª Pessoa manda... então virá o discurso antropológico que diz que a vida em sociedade é regida por leis e ações do coletivo... sim, concordo, mas acredito que quando essa coletividade tolhe a possibilidade dos indivíduos conhecerem outros caminhos para se chegar a um denominador comum, emerge algo chamado censura e/ou controle.

Na abordagem somática na construção do saber abre-se espaço para exploração de caminhos possíveis para o entendimento, acontece a queda do condicionamento. Assim, o individuo descobre que ele pode aprender algo de diferentes maneiras, e dessa descoberta sobre si este mesmo individuo percebe que ele pensa e é capaz de se autoconhecer.

A este individuo foram entregues dados e ferramentas e possibilidades para que ele sozinho possa juntar o quebra-cabeça, as coisas não lhe foram entregues ‘mastigadas’. E a trajetória de como montar o quebra-cabeças torna-se mais importante do que a peça montada. Alguns talvez se perguntem: “mas pra quê perder tempo experimentando se já existe um caminho que todos sabem que vai dar certo?” a resposta é simples: não somos robôs, nem mais homo sapiens na selva pré-histórica; as aptidões e percepções são diferentes de individuo para individuo, essa valorização individual é que gera a inclusão e compreensão (da)na diversidade. O condicionamento aprisiona e gera (pré)conceitos, intolerâncias.

Depois que me tornei adulta e muito depois de passar pela faculdade, eu compreendi meu ódio e repulsa pela Academia. Esta não é ruim, o que matava meu interesse pela escola (e não pelo saber) era o academicismo... porque condicionava tudo a uma formula onde os  componentes não podem sair do lugar comum. Não se pensa, nem se reflete sobre o quê nos é ‘ensinado’, sai-se da faculdade adestrado... Felizmente isto já está mudando, porém ainda requer passos mais largos.

“Que discurso bonito, mas na vida isso não funciona!”, diriam alguns... funciona quando o (auto)conhecimento faz com que o individuo opte por outras atitudes em prol de seu bem estar e isso se reflete indubitavelmente no bem estar coletivo. Abrem-se outras percepções sobre o que realmente é importante, é a valorização do SER e não do ‘ter’. E a sociedade vai sendo formada por pessoas mais dinâmicas, criativas, sensíveis, humanizadas. Para o capitalismo selvagem isso não é tão bom, porque o retorno de lucro não será imediato, dentre outras coisas... (mas isso é outra discussão).

Pois bem, de posse desta breve introdução básica, agora descrevo aonde a educação somática tornar-se presente em minhas atividades artísticas. Em sala de aula, expliquei (bastante surpresa) a prfº Saulo, onde eu estava aplicando os princípios da educação somática de forma bastante eficiente: durante o repasse do conhecimento pratico em realização para o audiovisual. Que incrível!

Há quase dois meses participo de um coletivo de cinema, onde estou auxiliando na realização do projeto de um dos componentes, as pessoas do grupo sabem pouco sobre a linguagem e procedimentos para a realização de um filme. Fui convidada pelo coletivo para dar umas dicas sobre o assunto. Então, aproveitando a oportunidade, resolvi experimentar uma abordagem de repasse do conhecimento respeitando os princípios da educação somática. Os resultados são os melhores possíveis, tanto para o grupo quanto para mim que participo dele. Ao final da realização desse projeto pretendo escrever sobre essa experiência. Sinto-me mais estimulada para realizar algo quando se tem a possibilidade de experimentar novos caminhos. Sem duvida a Educação Somática é o futuro.


03 de outubro de 2012
00h00
*ouvindo ininterruptamente “Monte Castelo” – Legião Urbana; é um excelente mantra.


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