segunda-feira, 1 de outubro de 2012

TEXTO Nº05 - Katiuscia


ESCOLA DE TEATRO E DANÇA DA UFPA
GRUPO DE PESQUISA E EXTENSÃO EM EDUCAÇÃO SOMÁTICA NA DANÇA
Coordenação: Profº Mestre Saulo Silveira

 O encontro do dia 23/04/12 iniciou com o grupo organizando, em conjunto, os tópicos para um futuro seminário sobre a educação somática na prática da dança; linkamos e dividimos os tópicos entre os participantes; depois relembramos o assunto do encontro da semana passada. Fomos para a prática.

A ênfase do relaxamento através da respiração conectada ao movimento do corpo foi novamente o convite para acessarmos nossa psique através da consciência dos movimentos, peso do corpo físico e sua relação com a respiração, abrindo caminho para chegarmos à conexão total.

Através dos exercícios desse encontro, eu acredito ter alcançado o ápice de meu relaxamento e fruição momentânea de meu inconsciente dentro das atividades do grupo. Após retornarmos da finalização dos exercícios práticos eu quis abrir para o grupo meu relato pessoal, pois realmente foi um relaxamento absoluto, até sai de meu corpo físico. Eu já havia experimentado tal coisa, porém através de estímulos diferentes (um foi por hipnose, outros através da pratica de Hatha Yoga). Entretanto, o que me surpreendeu foi a rapidez com que fluiu esse desdobramento.

A seguir vou relatar o passo-a-passo do que eu senti após a prática dos exercícios físicos:

a) Relaxamento e bem-estar a nível físico (corporal).

b) Conexão com o impacto físico dos movimentos anteriores (respiração e movimento do corpo), com a sensação (emoção) percebida pela compreensão cerebral (razão). Posso dizer que nesse estágio eu comungava a consciência total de mim.

c) Desprendimento de minha mente do meu corpo físico, entretanto eu continuava conectada e consciente de meu corpo físico deitado ao chão, mas eu permanecia em outra esfera de consciência, algo fora de meu involucro físico.

d) Não respondia aos comandos de profº Saulo, pois a sensação de bem-estar era maior do que a vontade de me mexer. Entretanto eu acompanhava todos os comandos através da audição, e não sei bem, mas mesmo de olhos fechados eu “via” meus colegas realizando os comandos que profº Saulo lhes dava.

e) Expansão de meu corpo físico a nível mental: sentia-me leve e ao mesmo tempo sentia-me totalmente ao solo da sala de aula, entretanto não era uma sensação comum entre massa x peso, e sim uma relação consciência do que eu sentia em relação a meu corpo. A razão me situava deitada ao chão com todo peso inerente à ação da atmosfera, mas minha psique me fazia sentir leve e expandir meu corpo como uma neblina suave e espessa que enchia toda a sala. Sentia como se minha massa corporal aumentasse, não como que engordando e ficando pesada, mas como se eu fosse uma espuma leve dessas de banheira que vai aumentando e preenchendo o espaço. Era uma sensação de bem-estar completa. Sentia-me em estado de felicidade interior.

Entretanto, houve um comando que profº Saulo proferiu que me fez ficar mais atenta. Ele nos pediu para ouvirmos nosso coração. Compreendi a metáfora para escutarmos nossas emoções... eis o ponto! Carrego imensa dificuldade de acessar meus sentimentos para as relações interpessoais mais intimas, reconheço que isso é devido ao histórico que carrego sobre o assunto: encontros ruins, péssimas lembranças, homens confusos, caos emocional, etc... realmente “ouvir meu coração” numa hora dessas é o mesmo que me pedirem algo do tipo: “pegue seu coração e o entregue ao primeiro canalha para ele massacra-lo novamente...”, automaticamente eu fico em “Alerta Vermelho”!

Durante algum tempo de minha vida eu estava desconectada de mim mesma. Eu sentia algo, mas demonstrava o inverso do que eu realmente sentia, e ainda pensava algo diferente do que sentia e demonstrava... ou seja, eu estava em pleno caos emocional e inconsciente de mim mesma. Atravessei um inferno em busca de equilíbrio, isso durou uns sete anos. Atualmente estou bem melhor e já consigo perceber certas coisas, porém, o pomo da discórdia ainda continua sendo meus sentimentos.

Normalmente eu os sinto (os sentimentos), os identifico e procuro agir e pensar conforme o que eles me mostram ser a harmonia interna. Mas quando se trata de eu “baixar guarda” vem o “Alerta Vermelho”. Ainda sinto medo de me relacionar com o sexo oposto. Sofri muito em relacionamentos problemáticos, e atualmente eu procuro dedicar-me mais aos assuntos vinculados à trabalho e à minha criação artística. Sei que isso não basta, e meu coração se manifesta, como atualmente vem acontecendo. Ainda assim, existe a opção da escolha: já consigo compreender a coerência entre o sentir e o agir; o sentir e deixar fluir e arcar com as consequências; e o sentir e procurar racionalizar isso para não me causar maiores danos mais a frente por uma escolha por impulso. Costumo observar bastante para não tomar nenhuma medida precipitada. Realmente ouvir meu coração é algo que não consigo deixar acontecer plenamente.

E como eu acredito que nada na vida acontece em por acaso, as aulas desse grupo de estudo estão em perfeita conexão com o que eu vivo na vida particular atualmente... Os exercícios práticos dos encontros sobre a educação somática estão reverberando, sobretudo, em minhas relações interpessoais cotidianas, que por sua vez repercute em minha produção artística e também com a manutenção de meu bem-estar e qualidade de vida.

Interessante sobre isso é linkar com o que discutimos no grupo no encontro passado acerca do texto Corpo Livre e Corpo Possuído, no que consiste à “couraça corporal”. Ainda há essa camada revestindo meu coração. Preciso confiar no outro, entretanto preciso me sentir segura para descartar essa camada ainda existente para meu coração voar e ser feliz plenamente como acho que qualquer pessoa deve ter a chance. Quando procurei conhecer o grupo de estudo de profº Saulo não foi com essa finalidade, porem é onde os exercícios práticos estão repercutindo mais. Preciso me libertar dessas lembranças ruins e traumáticas para acessar esferas de consciência corporal e psíquica que desobstruam os canais energéticos de uma vez por todas para meu corpo alcançar e manter sua totalidade. Precisava de ajuda, e o Universo conspira a favor. Preciso deixar-me apaixonar... mas que seja de forma integral e plena. Às vezes sinto como se a Vida estivesse me dando a chance de nascer de novo em diversas lembranças que revisito. Algo como redesenhar minha história para melhor e mais feliz.


25 de abril de 2012
23h39

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